quarta-feira, 15 de junho de 2011

ACABOU A RAÇÃO


Lembra quando eu escrevi sobre O CACHORRO DA VIZINHA, no mês de Maio? Pois é, num determinado momento eu mencionei que não queria acreditar que a vizinha tinha prendido o cachorrinho. Só que eu estava certa!
No decorrer destes dias, exatamente um mês, os alunos, depois da oração da manhã, me “lembravam” que deveríamos colocar a ração. 


Eram momentos de alegria, de satisfação e teve um dia em que todos nós comemos um grãozinho da ração. Cada dia era a vez de dois alunos, eu aproveitava para trabalhar o lúdico com todos os alunos. Tudo era motivo de alegria, de satisfação e de fé, pois quando entrávamos na sala de aula eu perguntava:
- O que Jesus falou mesmo?
Todos respondiam num tom harmonioso.
- Bem-aventurados os que cuidam dos animais.
Certo dia, percebemos que um dos cachorrinhos estava com uma pelotinha num dos olhos, perguntei para a sobrinha da vizinha, que é minha aluna o que tinha acontecido e ela respondeu que um cachorrão brigou com ele e machucou-o. Cheguei a pensar em chamar o veterinário ou levar um remédio e dar escondido para o cãozinho. Teve um dia que a vizinha estava sentada na área de sua casa com várias pessoas, quando o cachorrinho machucado deu um grito e saiu andando. Seu olhinho estava infeccionado. Todos deram risadas e falaram que o cachorro estava louco. Fiquei com o coração apertado.
Na semana passada, depois que colocamos a travessinha com ração para os cachorrinhos, entramos, a merendeira entrou na sala, fechou a porta e me falou:
- Professora, a vizinha veio trazer o prato de ração e falou que é para a senhora parar com essa palhaçada de dar ração para os cachorros e que se estou pensando que ela não dá de comer para seus cachorros eu estou muito enganada e que um dos cachorrinhos sumiu e foi encontrado morto, que se eu não tivesse dado a ração ele estava vivo.
Eu fiquei indignada, pensei em ir falar com ela, mas temendo uma reação negativa, um escândalo perto dos alunos, não fui. Expliquei o que estava acontecendo para os alunos e falei que estávamos proibidos de dar ração para os cachorrinhos.
O interessante é que ela ficou com a vassoura na mão, andando pelo pátio, talvez esperando que eu colocasse o pratinho de novo.
Com uma tristeza profunda telefonei para meu filho mais velho e chorei, chorei com lágrimas do coração e este pediu que quando eu me acalmasse deveria falar com ela. Mas, não quis ir porque sei o quanto eles são barraqueiros. Para se ter uma idéia, foi colocado um poste perto da escola e o marido dela, que se acham donos da escola e do pátio, desliga o contador toda noite, chegando a estragar a merenda das crianças. Já foi reclamado junto à Prefeitura, mas até agora não trocaram o poste.
No outro dia, da proibição, o marido dela foi até a escola falar comigo, mas eu não estava e ele tornou a falar sobre a ração que tinha matado o cachorro. Depois deu uma volta em torno da escola para ver se tinha algum vestígio de ração. Hoje, um dos alunos falou que o cachorrinho foi morrer na casa dele. Que quando sua mãe foi abrir a porta viu aquele cachorrinho magrinho deitado, pegou um paninho e cobriu-o. Tentou dar leite, mas ele não quis e morreu.
Agora não temos mais alegria de colocar ração e temos que presenciar os nossos “fregueses” magrinhos, ao redor da porta da escola, pedindo comida e não podermos fazer nada. Infelizmente isto acontece numa escola. Você não acha que é pura maldade? O que faria no meu lugar? O que dizer aos alunos?

Um comentário:

  1. Realmente, lamentável ...
    Não sei o que eu faria , se armaria um barraco junto a eles, se acionario os Zoonoses , realmente só sei de uma coisa : EU DARIA UM JEITO DE TIRÁ-LOS das mãos deles .
    Lastimável que existam ''seres'' como esses.
    Lindo o seu trabalho, a propósito .

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